O prisioneiro, por ser um livro que nasceu no correr do processo ditatorial, acaba por refletir as marcas do período. Basta ver não só o próprio título, mas também as palavras escolhidas para nomeação dos poemas, que remetem ao clima de intimidação vivido na época: "Medo", "Prisão", "Clandestinidade", "A sentinela", "A execução", e assim várias outras peças que transcendem o existencial. Por mais que se mostrem analíticos dos rastros cotidianos e o autor os revista com a feição do mais férreo lirismo, os poemas remetem para o claustrofóbico, o aprisionamento, a noite, o beijo na face da morta, restando ao indivíduo/poeta ".
O poeta, consciente, critica a agitação da cidade grande, a fragilidade das promessas que os homens fazem entre si, e, por mais que declare não se desejar participativo, reconhece que "a mobilidade / de um inseto prisioneiro / cujo desespero / transcende / a concha da mão / que o esmaga". A liberdade sai vencedora na metáfora da história, pois o limite do homem é o outro homem. O prisioneiro é livro marcante e deve constar nas estantes das indispensáveis releituras.